domingo, 17 de junho de 2018

Eu vomitava com facilidade.
Na privacidade da minha casa, podia me cuidar e por pra fora todo o lixo alimentício que consumia.
Mas os tempos são outros.
Passo o dia na Universidade e sempre tem gente nos banheiros.
E o tempo do campus até em casa seria catastrófico para isso.
Para me esvaziar.
Em contrapartida, as angústias da vida acadêmica me fazem comer.
Descontar na comida é uma fraqueza.
Tenho essa fraqueza.
Preciso me fortalecer, me reequilibrar.
Não comer.
Não gastar com comida.
Preciso de ajuda para me controlar.
Eu sou uma boa pessoa.
Tento ser cordial na maior parte do tempo.
Educada, gentil, simpática até.
Mas isso não basta.
Essa fachada esconde a dor de alguém que só quer ser magra.
Que chega ao fim do dia arrependida de ter comido tanto.
Que desconta na comida suas piores mazelas e inquietações.
Que tem medo de rejeição.
Que reconhece sua fraqueza por doces.
Que vive uma vida de fachada, fingindo felicidade ao comer, mas em extrema angúseria quando isso acontece.
Estou descontrolada.
Preciso parar de comer logo.
Falta ar.
Fumo mais um cigarro de palha tentando enganar a fome.
Limpo as lágrimas que surgem quando me olho no espelho.
Eu me odeio.
Quero me amar e sei que isso é impossível sendo assim.
Preciso emagrecer.
Este aspecto "saudável" de bochechas gordas, preciso perder.
Esconder a palidez sob uma fina camada de maquiagem, é a meta.
Aqui vai mais um dia comum embora.
Mais um dia imensa.
Mais um dia infeliz.
Até quando?
Com que roupa eu vou?
Tiro, coloco, me sinto uma idiota tentando caber em roupas que não me servem.
Pior: as que me serviam não me servem mais.
Como faz para trocar de corpo?
Prendo a respiração, murcho a barriga, sonho com a barriga chapada.
Volto pro estágio inicial: com que roupa?
A barriga salta para fora da calça.
Antes fosse só a barriga.
Estou em decadência.
Preciso mudar.
Meus 28 anos apontam um declínio de ritmo metabólico muito preocupante.
Onde é que eu vou parar?
Socorro!
Quem é você?
Quem você quer ser?
Eu sou o oposto do que quero.
Quero ser magra.
A ponto dos meus ossos aparecerem com facilidade.
A ponto de pensarem que estou doente.
Mas mais do que isso,
Quero ser capaz de me autocontrolar.
De resistir e dizer não à comida.
De por pra fora esse lixo caso eu coma.
De me limpar.
De me olhar no espelho e me amar.
Quero ser leve.
Quero o que quase tive - e perdi por fraqueza.